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Levantei da cama, já passava das 6 horas da manhã, ou melhor, das 6 horas da tarde já que na casa da noite o dia e noite são invertidos. Como toda manhã, acordei com o barulho do chuveiro, Venus minha colega de quarto já estava tomando banho para se aprontar para aula. Como rotina, me levanto e começo meu ritual diário, pentear meus lindo cabelos louros na frente do espelho. Sinceramente eu não sei o que faria da vida se fosse feia, mais graças a NYX, sou linda, gostosa, inteligente e muito modesta.
As pessoas em geral me veem como uma vadia do inferno, por sempre ser verdadeira e dizer o que realmente penso, mas na verdade elas têm medo disso, pois muitas vezes a verdade em si é dura e machuca aqueles mais acomodados com a falta dela. De certo modo, eu tenho atitudes meio de vadia mesmo, ok... Totalmente vadia, mas quem se importa? As pessoas só se interessam por aparências e estereótipos, até parece que vou começar com a caretice de ser diferente.
A demora de Venus no chuveiro estava realmente me incomodando, preciso me aprontar logo, hoje o dia promete ser lotado. Preciso ir atrás do babaca do Erik, meu namorado idiota... Que pensa que pode me dar um fora só porque não está mais a fim de mim. Até parece, todos os caras me amam! Todos os caras estão a fim de mim, afinal de contas eu sou a beleza e a diversão deste lugar.
- Vamos lá, Venus! Sai logo da merda desse banheiro! - muito estranho, a Venus sempre fica muito puta quando interrompo seu banho, ela está muito silenciosa – Venus, você está bem? Não acredito que você se afogou na água do chuveiro!
Ela realmente havia se afogado, mas não era com a água do chuveiro e sim em seus pulmões, assim que abro a porta do banheiro, tenho a visão mais horripilante do meu dia, Venus, minha colega de quarto e digamos ‘melhor amiga’ está totalmente coberta pelo seu sangue que saia dos olhos, boca, ouvido e nariz, ela está em uma posição não muito agradável, mas mesmo assim muito vulnerável.
- Oh não Venus! Não acredito! Você não pode morrer afogada na merda de seus Pulmões!
- Aphrodite dói demais, eu não consigo... Eu não aguento mais! Ajuda-me pela Deusa! – A voz de Venus estava falha e muito mais baixa do que o normal, eu estava totalmente apavorada, por mais que eu quisesse ajudar, não havia nada a ser feito, no momento em que nosso corpo começa a rejeitar a mudança não tem mais volta... Nós Morremos.
- Oh, Venus! Isso não pode estar acontecendo, eu sinto muito, muito mesmo. Por mais que eu não demonstre meus sentimentos, você seria a última pessoa a quem eu desejaria isso. Na verdade eu não desejaria isso para ninguém.
- Aphrodite, não me deixe, ok? Espere todo esse sangue idiota parar e eu morrer de vez para me deixar... Não me deixe, eu não quero morrer sozinha. Dói, dói demais, fique comigo.
- Não, de forma alguma eu vou deixar você passar por isso sozinha, somos amigas lembra? Feche seus olhos, tente descansar, isso vai acabar logo. Nunca se esqueça que sempre fui sua amiga e sempre serei, a nossa Deusa há de acolher você em seus braços, assim como uma boa mãe acolhe um filho em desespero.
- Estou com medo, eu não quero morrer! Eu sou jovem, bonita, tenho tanta vida pela frente, tantos planos. Eu Não quero, Aphrodite! Não quero, eu quero viver... Eu quer...
Sua voz morreu antes de seus olhos, onde ainda havia um rastro de lágrimas rosa. Ela morreu em meus braços, toda suja com seu próprio sangue. E agora eu estaria sozinha, a última pessoa que era capaz de me entender e ser minha amiga acabara de morrer em meus braços. Eu não fiz nada, não pude fazer nada. Se ao menos eu tivesse escutado quando ela pediu socorro logo que seu corpo começou a rejeitar a mudança... Talvez se eu tivesse levado ela à Neferet e ela arrumasse um jeito... Uma maneira, qualquer coisa. Mas no fundo eu sabia que isso era impossível, o fim dela chegara e isso era inevitável.
Alguém deve ter escutado meus gritos, será que eu realmente gritei? Tudo aconteceu tão rápido. Em instantes Neferet estava ao meu lado junto de dois guerreiros enormes que traziam uma maca, a maca que levaria minha única amiga. Mais pessoas estavam em nossa volta. Todos observavam com rostos pasmos e sem nenhuma outra emoção a não ser o medo: o medo de não saber quem seria o próximo a ser carregado sem vida.
- Não! Por favor, não machuquem ela! Ela já sofreu demais. Por favor, por favor, não machuquem ela. – As lágrimas eram inevitáveis, eu sempre tentei ser forte, sempre mostrei ser forte aos olhos alheios, mas nesse momento eu não me importava em mostrar nada, a não ser o quanto estava perdida, triste e infeliz.
- Se acalme, querida – Neferet disse baixo, de forma calma – Não a machucaremos, não se preocupe, eu cuidarei dela. Ssei que neste momento o luto é o mais apropriado, mas sei também que nossa querida Venus já deve estar dançando nos prados da Deusa. Não se preocupe, eu cuidarei dela como sendo minha filha.
- Eu não queria que ela fosse, ela não podia ir, ela não devia nos deixar. Não devia! Não devia! – Eu precisava sair daquele lugar, estava me sentindo acorrentada àquela situação, tudo que eu olhava me lembrava a morte, todos os rostos, todos os cantos do banheiro cheio de sangue, o corpo que foi coberto e estava sendo levado para longe de mim – Quero todo mundo fora daqui! Saiam... Acabou o show, ela morreu... Acabou. Vão todos embora daqui, eu quero ficar sozinha, SAI!
Em instantes todos haviam saído do quarto e eu realmente estava sozinha, completamente sozinha. Olhando para mim no espelho, pude ver a marca de uma lua crescente no meio de minha testa, uma marca de amor que a Deusa dava aos seus calouros, uma marca que um dia me Marcaria em meio aos demais como uma vampira completa. E era só isso que importava agora, eu passaria pela transformação e sairia daquele lugar, deixaria todas aquelas odiosas pessoas de lado e seria eu mesma. Aphrodite, a mais linda, a melhor, mais inteligente e futura sacerdotisa.
Apenas uma pessoa ainda estava no quarto, olhando o desespero no meu rosto aflito. Neferet.
- Aphrodite, querida, se acalme. É difícil ouvir isso em um momento desses, mas você precisa se acalmar, ficar sozinha neste momento não ajudará em nada – sua voz soava como preocupada – Você devia trocar de roupas e procurar uma pessoa que pudesse te apoiar neste momento, porque você não fica em companhia das outras meninas... Deino, Enyo e Pemphredo ou então do seu namorado Erik?
- Eu preciso ficar um tempo sozinha, vou trocar de roupa e talvez depois os procure – estava odiando minha fragilidade e sensibilidade naquele momento. Minha mãe sempre me disse que demonstrar fraqueza era uma coisa errada. Coisa de gente fraca, que sempre arrumava uma desculpa para se fazer de vitima, sendo assim sequei minha lágrimas e resolvi mostrar um pouco de dignidade quando disse – Você está certa, vou procurar as meninas ou o Erik, assim posso me distrair um pouco e quem sabe esquecer.
- Isso mesmo. – Neferet parecia mais calma agora – De qualquer forma, vou deixar esse calmante com você, depois de um trauma desses, pode ser que seja mais difícil você conseguir dormir ou relaxar – ela me entregou um frasco pequeno com um liquido leitoso – Tome antes de dormir, dificilmente você terá sonhos ou uma noite agitada.
- Obrigada, Neferet.
- Imagina – disse ela com um gesto de mão – Eu me preocupo com meus calouros Aphrodite, principalmente com você.
Parecia uma daquelas paranoias, mas eu de alguma forma sabia que essa preocupação toda de Neferet era um tanto exagerada. Na verdade a maioria das vezes eu considerava Neferet um tanto quanto gélida com os calouros e tudo ao seu redor. Como sabia disso? Simples, eu tinha inventado a cara de inocente e olhar de vitima então dificilmente era enganada pelo mesmo truque.
Depois de finalmente estar sozinha, foi quase impossível conter as lágrimas. Quase. Mas eu não me conformaria em ser o elo fraco dessa história, troquei de roupas, arrumei o cabelo e parti para a luta. Fui realmente dar razão para aqueles que me chamavam de vadia do inferno.
nossa muito bom parabens
ResponderExcluirGostei bastante! Principalmente a frase "Fui realmente dar razão para aqueles que me chamavam de vadia do inferno." HAHAHA adoooro a Afrodite!
ResponderExcluir"As pessoas em geral me veem como uma vadia do inferno, por sempre ser verdadeira e dizer o que realmente penso, mas na verdade elas têm medo disso, pois muitas vezes a verdade em si é dura e machuca aqueles mais acomodados com a falta dela." #fato# A parte que mais gostei... Afinal, ela pode ser meia vadia... Ou por inteira, kkk, maas é verdadeira, e isso é oq realmente vale... E no fundo, no fundo, ela é uma pessoa boa! Por isso que é minha personagem favorita!
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