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Paulo
O garoto perdeu completamente a noção de tempo. Já parecia estar no banheiro há horas. Voltou a si quando ouviu a voz da mãe no lado de fora da porta.
- Sai daí, nós precisamos conversar.
- O que foi? - perguntou abrindo a porta.
- Eu preciso saber... O que eu faço com você agora?
- Não sei. O vampiro que me marcou disse que eu tenho que me mudar para uma Morada da Noite.
- Mas a Morada da Noite mais próxima fica no Rio de Janeiro!
- É, eu sei.
- O que acontece se você não quiser ser essa coisa, e não for para essa escola?
- Eu morro. Não tem jeito de não ir.
- Ok, vai para o seu quarto arrumar suas coisas, e conversaremos quando seu pai chegar.
Paulo foi para o seu quarto, e trancou a porta. Ele queria mais que seus pais explodissem. O garoto já estava se sentindo mal, não precisava escutar mais um sermão.
Começou e empilhar algumas roupas encima da cama. Separou seus jeans mais novos; muitas camisetas, camisas e regatas; roupa de baixo; blusas de frio; calças e bermudas; alguns pares de sapatos; e mais um monte de roupas. Pegou também alguns livros que estava lendo, alguns DVDs, e itens de higiene pessoal, como perfume e desodorante. Aquilo seria suficiente por enquanto, o resto ele daria um jeito de buscar depois. Dividiu suas coisas em duas malas, e colocou no bolso uma pequena chave, que sua avó lhe deu antes de falecer.
Paulo deixou as malas em um canto do quarto, e deitou na cama. Estava quase pegando no sono quando escutou uma batida na porta. Seus pais não tinham explodido, afinal.
O pai de Paulo podia até parecer um cara legal no início. Era um coroa normal, cabelos grisalhos, pernas finas, com uma barriguinha. Mas ele na verdade era um tremendo moralista chato. O garoto não podia pisar nem um pouco fora da linha, que ele já vinha com mil pedras para castigá-lo.
Paulo saiu do quarto e viu que os pais tinham ido para a sala. Ele já podia prever a cena a seguir. O pai ia começar a acusá-lo, e julgá-lo, e a mãe concordaria com tudo o que o pai dissesse, mesmo que no fundo sentisse um pouco de pena do garoto.
O pai tentou encarar Paulo, mas parecia desencorajado por causa da marca, e fez uma cara de nojo.
- Eu não me espanto que isso tenha acontecido com você - ele começou. - Seu mau comportamento, o jeito que você me trata. Era óbvio que algo desse tipo ia acabar acontecendo.
Paulo sacudiu a cabeça. Ele já esperava por algo assim, mas ouvir o pai dizendo aquelas palavras era chocante. Todo mundo sabia que ninguém podia evitar quando era escolhido pela Noite. Quando alguma pessoa era marcada, querendo ou não, teria que passar pela transformação. Não era uma questão de ser bom ou ruim, simplesmente acontecia. Pequenas coisas, consideradas como péssimo comportamento pelo pai do garoto, não faria com que a pessoa fosse escolhida para ser um vampiro. Mentiras ocasionais, e não concordar com algumas convicções dos pais não colocava ninguém na “lista de risco”.
- Eu não fiz isso, ok? - Paulo disse. - Foi algo que eu não procurei. Simplesmente me escolheram, e nem eu sei o porquê.
- Mas eu sei. Essas criaturas do demônio escolheram você, porque você é como elas!
Paulo ficou olhando boquiaberto para o pai. Era só o que faltava! Ele tinha que meter sua religião no meio daquilo! Aquela era a questão. O garoto nunca aceitara muito bem a religião do pai, por isso o pai devia achar que ele era um escolhido do inferno para atormentar sua vida.
- Isso não é uma coisa maligna! - Paulo começou de novo. - Nós estudamos isso. Alguns adolescentes possuem um tipo de hormônio que outros não têm. Quando chegam a uma fase da vida, esse hormônio começa a reagir, e é quando o Rastreador identifica a pessoa, e a marca. Isso é uma questão genética!
- Isso é mentira! A ciência está compactuada com o diabo!
- Eu só estava tentando explicar!
- E quem é você para explicar algo pra mim?
Ficaram em silêncio por um momento.
- O que faremos com ele? - a mãe perguntou como se o garoto não estivesse presente.
- Eu vou ligar para algumas pessoas que talvez possam ajudar.
- Você está falando daqueles loucos que você chama de irmãos? - Paulo perguntou.
- Ligue para a Sandra - o pai disse para a mulher.
A mãe assentiu, e já ia se levantando, quando Paulo começou a gritar, fazendo-a cair sentada no sofá.
- Eu não vou aceitar isso! Não vou aceitar que nenhum louco queira me estudar como se eu fosse um extraterrestre! Eu vou para uma Morada da Noite, querendo vocês ou não!
Paulo começou a tossir freneticamente. Por um momento pensou que ia vomitar.
- Filho, fique conosco pelo menos essa noite - a mãe tentou.
O garoto apontou para a própria garganta.
- Isso vai piorar se eu não for agora. Eu preciso estar com vampiros de verdade.
- Mas filho...
- Ok, ligue para quem você quiser! Eu vou para o meu quarto, e vou descansar um pouco. Não estou me sentindo muito bem.
O garoto foi para o quarto, e sentou na cama. Ele precisava bolar um plano, e rápido. Mas não seria nada fácil inventar alguma coisa. Paulo pegou o celular, e discou o número de Isabella.
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