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Cara! Que coisa mais estranha! Eu sabia que tinha uma irmã, mas não sou o tipo de pessoa que fica imaginando o que vai dizer caso surja uma situação como esta. Então era de se esperar que ambos ficássemos em silencio por um bom tempo e foi exatamente isso que aconteceu, mas só percebi depois de vários minutos tagarelando sem parar comigo mesmo. Foquei minha visão e percebi que ela estava me encarando, mas então me dei conta que ela não estava me encarando, ela estava fazendo o mesmo que eu, falando sem parar... Em sua própria cabeça.
- Então... Zoey?
Ela pareceu um pouco confusa, então percebeu que “estava me encarando” e desviou o olhar o mais rápido que pode.
- Desculpe... O que você me perguntou?
Segurei para não rir, pensando no quanto ela estava se parecendo comigo quando eu estava no mesmo lugar que ela estava agora. Mas então me lembrei de que isso estava muito parecido com o meu... Quer dizer, nosso pai. É logico que estava parecido, ela era filha dele, tanto quanto eu. Será que meus outros irmãos também faziam isso?
Então percebi que estava com cara de idiota olhando o vazio novamente enquanto ela me chamava.
- José? Eduardo?
Foquei o olhar nela e dessa vez não pude segurar, comecei a rir feito um bobo, ela ficou com cara de preocupada ao mesmo tempo em que ficou irritada.
- Desculpe. É que... Primeiro fui eu, depois você e, agora fui eu novamente...
Ela pareceu ficar mais preocupada, mas a irritação deu lugar a duvida.
- Do que você está falando?
Continuei rindo, mas então respirei fundo para me acalmar e respondi:
- De ficarmos tagarelando sozinhos em nossas mentes.
Ela ficou mais preocupada ainda.
- Você consegue ler mentes?!?!
- Não. Lógico que não. Isso é impossível!
- Então o que...?
- Você fica encarando o vazio exatamente como eu faço quando estou em meu blábláblá mental.
Ela respirou aliviada e fiquei curioso com relação ao que ela estava pensando de tão importante para não querer que eu soubesse. Então se sentou na beirada da cama e perguntou:
- Como aconteceu... Quero dizer... Como você foi Marcado?
Pressenti que não era bem essa a pergunta que ela estava querendo fazer, mas decidi não pressioná-la.
- Estávamos na floresta, como todos os anos, comemorando o aniversário da idiot... Quer dizer... O seu aniversário e, eu e o papai brigamos, mais uma vez, e senti vontade de me distanciar dos animais racionais e me aproximar dos animais irracionais. Eles me acalmam muito com seus conselhos.
- Vocês estavam comemorando o meu... Espera ai! Conselhos? Tipo, eles conversam com você?
- Não! Sim! Bem... Eles conversam com todo mundo, mas ninguém é capaz de entendê-los como eu.
Ela revirou os olhos.
- Sei...
- Não, é serio. Eu também achei estranho. Você não pensa que eu sou um psicopata que conversa com os animais esperando receber ordens para matar alguém né?
Ela se levantou um pouco preocupada e se afastou de mim.
- Não. Até agora.
- Fica tranquila, eu não sou. Começou há alguns meses, quando a Silvia ligou para o papai dizendo que você foi marcada. Desde então eu consigo compreender os animais, mas eles não falam comigo como eu e você estamos conversando agora. Eu consigo entender o que eles querem através de seu comportamento. Por exemplo, o Sombra aqui, ele está brigando comigo, pois eu dei um susto muito grande nele e meus pais não o trouxeram no carro ele teve que vir andando até aqui.
- Sombra?
- Sim. Meu gato. É por que quando ele me encontrou eu o vi sair das sombras.
Sombra deu um grito irritado.
- Está bem. Ele acabou de dizer que não é meu gato. Que é ao contrario.
Ela riu e, pela primeira vez eu realmente me senti confortável perto dela.
- Minha gata, a Nala, ela também pensa assim.
O Sombra ronronou mostrando que estava de acordo.
Eu e Zoey rimos. Então ela se aproximou e coçou as orelhas dele fazendo-o ronronar ainda mais. Foi quando percebi.
- Você tem varias tatuagens pelo corpo...
Ela ficou um pouco vermelha e um pouco brava, mas também ficou confusa.
- Você ainda não tinha reparado?
- Não, fiquei tão focado no fato de você ser tão parecida com ele que nem prestei atenção no resto.
Ela entendeu na hora de quem eu estava falando e meio acanhada me perguntou:
- Por que vocês estavam comemorando o meu aniversário?
Fiquei um pouco bravo e respondi de uma forma amarga:
- Não sei. Ele faz isso todos os anos. Mas sempre se esquece do meu...
Ela sentou-se do meu lado colocando os pés para cima e me acalmou:
- Não pense que meu aniversário é grande coisa. É uma droga fazer aniversário perto do natal, por que as pessoas logo ligam as datas e acaba se tornando um natalversário. Só tinha uma pessoa que não fazia essa ligação. Mas ele não esta mais aqui.
Abracei-a meio sem jeito e já totalmente arrependido por ter ficado reclamando. Percebi que ela não falava nada e então tentei desviar o rumo da conversa.
- Ei. Eu sei como é isso de fazer aniversário perto de uma data comemorativa. Deixe-me adivinhar, todos te dão aniversários com motivos natalinos, como bonecos de neve ou arvores de natal?
Ela se virou para mim com os olhos brilhando e sorriu.
- Sim. Como você sabe?
Sorri para ela e fiquei um pouco corado.
- Experimenta fazer aniversário em abril. É bem pior!
- Como assim?
- Este ano. Bem, em 2012 meu aniversário vai ser em um sábado, dia sete, e a páscoa vai ser no dia oito.
Ela sorriu como que querendo ver o lado bom.
- Pelo menos você ganha chocolate e ovos da páscoa.
- Antes fosse assim. As pessoas querem evitar o tema da páscoa, por isso não me dão chocolate, mas tudo o que ganho tem um coelhinho sorridente estampado.
Ela começou a rir novamente. Então uma tempestade de cachos loiros entrou no quarto, seguida de perto por uma garota loira e muito gostosa.
- Zoey. A Shaunee disse que seu irmão está aqui e...
Então a loira a interrompeu.
- Ah não Zoey! Será que você não aprende! Já não teve muitas experiências ruins com vários namorados ao mesmo tempo?
Zoey e eu nos entreolhamos sem saber o que dizer e então começamos a rir muito enquanto as duas nos olhavam com ar de reprovação.
A loira se aproximou mais e perguntou:
- Zoey, isso é serio? O que o Stark vai dizer?
Então entendi por que ele estava no quarto na hora que “acordei”, mas antes que eu pudesse dizer alguma coisa, a tempestade disse:
- O que um humano está fazendo aqui? Como ele se feriu? Ah não! Ele e o Stark brigaram quando o Stark descobriu? Cadê o Stark? O que aconteceu com ele?
Zoey a interrompeu levantando a mão no sinal universal de pare. Então eu e ela começamos a nos recompor das risadas, mas ela já estava ficando brava.
- Vocês acham mesmo que eu ia fazer isso de novo? Mesmo depois do que aconteceu com o Heath?
Elas ficaram meio vermelhas e murmuram desculpas. Então foi minha vez de falar.
- Oi. Meu nome é José Eduardo Montgomery. Primeiro não sou um humano, pelo menos não mais. Eu acho.
Zoey concordou com um aceno e disse:
- Eduardo. Estas são Aphrodite e Stevie Rae. E, sim. Você é um vampiro, eu vi sua marca. Elas é que não estão vendo. É por que está atrás nas bandagens.
Levei minha mão à cabeça e constatei que estava enfaixada. Então continuei.
- Em segundo. Eu e Zoey não somos namorados. Eu sou o irmão da Zoey. Quer dizer, meio irmão.
Stevie Rae estalou os dedos dizendo:
- Aiminhadeusa! É claro! Montgomery! Era o sobrenome da Z. Antes.
Achei engraçado o modo como ela falava, tinha um certo sotaque, mas não parecia aquela coisa de caipira. Ela era até bonitinha falando assim. Aphrodite se aproximou meio confusa.
- Vocês são mesmo irmãos?
Eu e Zoey nos entreolhamos e dissemos ao mesmo tempo:
- Sim.
Ela segurou uma risadinha. Mas Stevie Rae passou na frente dela dizendo:
- Aphrodite! Que coisa para se perguntar! Não percebeu que ele está machucado?
Então ela olhou para mim e pude ver que estava muito mais curiosa do que Aphrodite para saber se éramos realmente irmãos. Tirei as bandagens da cabeça sob um olhar de reprovação de Zoey, mas a encarei e sorri como quem diz: eu estou bem e ela me olhou como quem diz: não, você não está, acabou de quase morrer! Achei isso muito estranho, mas ao mesmo tempo muito legal, pois eu nunca havia compartilhado uma experiência assim com ninguém. Então me virei para Stevie Rae e Aphrodite percebendo que elas estavam nos olhando embasbacadas. Foi ai que percebi. Era como ser uma aberração de circo, mas um circo particular onde apenas quem se apresenta sabe perfeitamente do que se trata a apresentação. Eu estava pela bilionésima vez em meu blábláblá mental, mas dessa vez foi como se eu e Zoey estivéssemos conversando dessa forma, um ouvindo o que o outro pensava.
E foi assim que a tarde se seguiu. Logo Stevie Rae e Aphrodite chegaram a conclusão de que era hora de ir e deixaram eu e “Z.” (como insistiam em chamar a Zoey) sozinhos mais uma vez, mas agora foi diferente, de certa forma eu e ela havíamos começado a ser amigos. E isso foi bom.
Ela havia se levantado e já estava quase saindo quando perguntei:
- Você se importa não é?
Ela se virou para mim atônita.
- Com o que?
Tentei colocar as pernas para fora da cama, mas era muito desconfortável usando aquela roupa estranha de hospital.
- Você sabe. Eu sei que sua vida é muito tumultuada, principalmente depois que você foi Marcada e tal. Mas... Você se importa. Eu sei. Com sua família. E, me desculpe por aparecer do nada e trazer ele comigo.
Ao perceber que eu estava me levantando ela se aproximou me impedindo.
- Nem pense nisso! E, não é culpa sua. O papai não estava mais feliz ao lado da minha mãe. E, ele só pensou que era o melhor pra você.
Ela respirou fundo, olhando em meus olhos, e timidamente perguntou:
- Vocês comemoram mesmo meu aniversário todos os anos?
Fiz que sim com um aceno e, pela primeira vez não fiquei bravo, mas sim feliz. Pois eu sabia que ela também não era culpada por nada do que acontecia comigo. O culpado de tudo o que acontecia comigo era eu mesmo e minhas atitudes.
- Sim. Fazemos isso todos os anos e, mesmo ficando bravo antes, agora percebo que era bom. Pois era a única época em que toda, ou melhor, quase toda a família ficava unida.
Ela sorriu e perguntou:
- Há quanto tempo você sabe?
Ela sentou-se olhando em meus olhos e as palavras simplesmente saíram de minha boca.
- Sei desde os treze anos.
- Você nunca pensou em falar comigo antes?
Senti meu rosto se esquentar e respondi:
- Eu não saberia o que dizer. E, mesmo sem te conhecer eu sentia... Bem, ciúmes de você. Pois o papai sempre se lembrava da “Zoey” dele.
Ela concordou e fez uma ultima pergunta:
- A vovó Redbird sabia?
Acaricie a cabeça do Sombra e sussurrei:
- Sim. Ela sabia. Ela ligou para o papai quando você foi Marcada.
Não sei por que, mas aquelas simples palavras, aquelas simples e inofensivas palavras a fizeram voltar a zangar-se. Imediatamente Stark atravessou a porta com um arco e uma flecha pronta para disparar em um mal inexistente.
- Está tudo bem? O que esta acontecendo?
Zoey virou-se para ele e pediu:
- Pode disparar uma flecha no peito do Eduardo?
Imediatamente me assustei e ele perguntou:
- O quê?!?
Ela pareceu ficar irada.
- Não é serio. Não é ele. É a situação.
Ela saiu do quarto, mas antes se virou para Stark novamente e disse:
- Eu estou bem. Não me siga.
Ele olhou para mim e eu mantive seu olhar sem saber o que dizer. Então perguntei:
- O que aconteceu?
Ele se aproximou sorrindo como quem se desculpa.
- Ela tem passado por muita coisa ultimamente. Você não tem culpa de nada. Só dá um tempo pra ela digerir tudo.
Então ele saiu do quarto também e, pela primeira vez em muito tempo fiquei sozinho.